Revista À La Carte

Desde 1970, Mexilhão orquestra ode aos frutos do mar com maestria

Grelhado à Sete Mares | Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante
Coquetel de Camarão | Grelhado à Sete Mares | Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante

São Paulo é uma cidade que mastiga modismos com a mesma velocidade de um rodízio japonês. Entre tantas novidades que vêm e vão, resistir ao tempo é quase revolucionário — como é o caso do restaurante Mexilhão, que, desde 1970, mantém viva a liturgia dos frutos do mar, mesmo depois de casas célebres, como o extinto La Trainera, ficarem pelo caminho.

Na Rua Treze de Maio, o letreiro em neon e as janelas em forma de escotilhas já anunciam a viagem marítima. O aquário com corais e peixes exóticos recepciona quem entra, de frente para um salão de atmosfera náutica, enquanto, no andar de cima, o corredor que leva aos toilettes surpreende com ares de galeria: luz baixa, parede verde bandeira e gravuras de Miró e Manape.

Embora variado e bem servido, o couvert pode ficar de lado: vale investir nas entradas que mantêm vivas receitas de outra era, como o clássico Coquetel de Camarão (R$131), em taça própria com camarões cozidos, servidos frios com molho rosé; e as Patinhas de Caranguejo (R$93), em sua versão genuína e bem distante da substituta industrial.

Patinhas de Caranguejo empanadas e fritas servidas com molho rosé | Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante
Patinhas de Caranguejo empanadas e fritas servidas com molho rosé | Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante
Casquinha de Siri | Fotro: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante
Casquinha de Siri | Fotro: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante

Já a Coquilles de Saint Jacques (R$41,90), por sua vez, troca as vieiras por lulas e camarões. Puristas torceriam o nariz, mas o bechamel encorpado e o gratinado na concha garantem que a alma francesa da receita siga presente.

Se a pedida for sabores praianos, a dica é harmonizar as excelentes caipirinhas do bar com as Ostras Frescas (R$86 ou R$43 meia dúzia), os Bolinhos de Peixe (R$68) e a Casquinha de Siri (R$41,90) — o discreto dendê realça o prato, mas é o siri quem assume o protagonismo, em vez de se perder sob o gratinado de queijo e faz juz ao valor.

Já a Sopa à Leão Veloso (R$107) é a joia rara da casa. Herdada do lendário Rio Minho carioca, traz frutos do mar e badejo mergulhados em um caldo encorpado, profundo no sabor e na personalidade. Raridade em São Paulo, é um dos melhores e mais bem servidos exemplares da cidade.

Borbulhante na caçarola de barro, a Paella à Mexilhão é anunciada no menu para duas (R$290) ou quatro pessoas (R$498), mas o tamanho generoso quase sempre rende viagem para casa. A casa também oferece uma variedade de pescados como Meca, Haddock e Robalo.

Encantam pela apresentação a Lagosta à Thermidor (R$260) e o Grelhado à Sete Mares (R$332 ou R$422 com vieiras), com alho e óleo, molho Belle Munière e batatas sauté. Com peixe e frutos do mar grelhados, o conceito navega bem, mas a execução deixa alguns itens à deriva em relação à precisão do ponto.

Lagosta à Thermidor | Patinhas de Caranguejo empanadas e fritas servidas com molho rosé | Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante
Lagosta à Thermidor | Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante
Grelhado à Sete Mares Lagosta à Thermidor | Patinhas de Caranguejo empanadas e fritas servidas com molho rosé | Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante
Grelhado à Sete Mares Foto: Elvis Fernandes/ Instagram @mexilhaorestaurante

O restaurante também acerta ao popularizar oito pratos executivos, servidos de segunda a sexta-feira, almoço e jantar, de R$56 a R$65. Entre eles: Arroz de Camarão, Filé de Pescada Cambucu e Pasta La Campanha com Camarão.

Cada detalhe reforça a sensação de cápsula do tempo, como a lavanda morna com rodela de limão e o guardanapo de pano, oferecidos em pratos com conchas. O atendimento à francesa, com garçons de paletó branco e gravata borboleta, completa a experiência, cultivando hospitalidade ao longo de décadas.

Ao final, o café chega em bandeja de prata — pequenos gestos que parecem suspender o tempo, afastando o restaurante Mexilhão da pressa paulistana. Entre cantinas históricas e bares contemporâneos, o restaurante preserva o ritual do serviço clássico, mantém vivas receitas que foram ícones de uma época em que frutos do mar eram o epítome do luxo à mesa e exala o charme de um almoço que poderia muito bem acontecer num domingo dos anos 80.

SERVIÇO

Restaurante Mexilhão – R. Treze de Maio, 626 – Bela Vista, SP; Horários: Seg a dom., das 12h às 23h, Tel: (11) 3263-0135 | @mexilhaorestaurante

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