Revista À La Carte

Aby tem boa aposta no clássico português frente ao discurso esvaziado do contemporâneo

Ambiente do Aby, dentro da Casa Cascais, em São Paulo | Foto: Fabrício Bomjardim
Ambiente do Aby, dentro da Casa Cascais, em São Paulo | Foto: Fabrício Bomjardim

Há inesperado toque de modernidade no Aby, o restaurante de inspiração portuguesa que substituiu em julho de 2024 o Pátio das Cantigas. Dentro da Casa Cascais, no Jardim Europa, região oeste, o espaço idealizado pelo ator Ricardo Tozzi ainda buscava uma identidade para chamar de sua. A casa navegou pelas águas (pouco) claras da culinária contemporânea enquanto tentava manter um pé nos clássicos portugueses.

Nesse meio tempo, algumas propostas tiveram chance no espaço, sendo a da chef Ana Albuquerque a mais envolvente. Após uma reforma interna e a resolução de crises que quase levaram o restaurante a sair de cena, o Aby retorna ao circuito sob o comando da chef Ana de Assis.

A dona do Ateliê da Nata – com as portas fechadas na República – assume o discurso da gastronomia contemporânea, mas, na prática, é a clássica comida portuguesa que segue forte. Enxuto e reformulado, o menu assume os clássicos da terrinha e pega emprestada da chef a famosa lasanha de bacalhau (R$146). Assis repõe o Aby em cena forte o bastante para voltar a disputar as atenções do (seleto) público do gênero.

Pode-se dizer que a carta de entradas é a mais imponente, com nada menos do que cinco opções (o menu de peixes tem quatro possibilidades). Vale optar pelos caminhos seguros das cinco unidades do bolinho de bacalhau (R$79), ou das seis unidades do croquete de alheira (R$55). Ambos sequinhos e crocantes.

Feito para encher os olhos, o camarão a jana (R$99) surte efeito mais humilde. Trata-se de algumas unidades de camarão fritos com azeite, alho, coentro, folha de louro, salsinha, gotas de limão, pimenta dedos de moça e torradas. Não é tão marcante quanto a apresentação sugere.

Entre as carnes, o restaurante manteve o excelente arroz de pato (R$119) feito com bacon, cenoura, chouriço de carne, ervas finas e vinho tinto. Só ele já vale a visita. Entretanto, são naturalmente os peixes as estrelas da casa.

Carro-chefe desde a abertura do espaço, o bacalhau à aby (R$139) é opção leve, servida com arroz de côco (puxado para o risotto) refogado no creme de brié. Temperado com excesso de delicadeza, o bacalhau se dissipa em meio aos sabores do côco e do brie, e abre espaço para outra estrela.

Trata-se, claro, da lasanha de bacalhau pensada por Assis. A chef usa a massa artesanal para embalar o peixe desfiado em um molho branco (realmente) saboroso. O sabor do bacalhau jamais se perde em meio à alquimia de massas e molhos de uma lasanha surpreendentemente leve.

Sem medo de mergulhar na ascendência portuguesa, o menu do Aby é envolto pela típica canção popular da terrinha. Com shows ao vivo, o restaurante assume a sina de uma (charmosa) casa de fados. Vale a experiência, principalmente se finalizada com a dobradinha do pastel de nata (R$28) e da barriga de freira (R$25).

A julgar pela retomada neste 2025, há no Aby a ideia de revitalizar antigos clássicos portugueses, resultando melhor do que um mergulho no desconhecido contemporâneo, onde há pouco a ser dito senão o discurso. Pelas mãos de Ana de Assis, há menos papo e mais ação.

SERVIÇO

Seg. a qua., das 12h às 15h; qui. a sáb., das 12h às 23h. Endereço: av. Nove de Julho, 4.984, Jardim Europa, região oeste. Tel.: (11) 94569-0224. @casacascais

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