Menu leve do La Maddalena Osteria reflete o charme de uma casa realmente contemporânea

Considerado um caminho seguro dentro do mercado gastronômico de São Paulo, a culinária italiana pode trair investidores e ser um tiro no pé de quem crê navegar em mares conhecidos. Isso porque, com o passar dos anos, tem se acentuado certo desequilíbrio entre a oferta crescente e uma demanda cada vez mais retraida.

Não é difícil encontrar novos restaurantes italianos com propostas mirabolantes que não chegam ao primeiro aniversário. Não parece ser o caso do La Maddalena Osteria, que, diferente do habitual, testou seus truques no interior do Estado, em Taubaté, antes de aportar na capital.

Sob o comando do chef Marcel Villaça, o restaurante ocupa um imóvel discreto na Ferreira Araújo, em Pinheiros, onde estão dois concorrentes de peso: a (excelente) Tartuferia San Paolo e a (popular, ainda que superestimada) Nonna Di Lucca.

A casa, contudo, tem suas armas, sendo a principal delas o ambiente, que, dividido em dois andares, conta com um salão pronto para receber grupos e festas (com direito a teto retrátil), e outro, mais aconchegante, na entrada, onde cabem poucas pessoas e é possível acompanhar a cozinha.

O charme do salão se expande no menu idealizado por Villaça, que parte do básico (massas frescas, receitas testadas à exaustão e bons ingredientes colhidos de bons parceiros) para emergir com pratos realmente surpreendentes.

É possível jogar seguro optando pelo clássico arancini de entrada, mas o ideal é mergulhar no ótimo Arancini de Pato (R$43), destaque soberano entre as entradas. Trata-se de uma releitura do bolinho de arroz recheado com carne de pato e com uma geleia de laranja delicada de acompanhamento. 

Outra (boa) pedida é o Raviolini Wagyu (R$55), um ravioli tostado e recheado com wagyu servido em uma cama feita com um purê de mandioquinha saboroso bem harmonizado com o pesto de limão siciliano.

Embora bem servidas, as entradas não chegam a estragar a experiência dos principais. O diferencial das criações de Villaça é a leveza da produção de suas massas artesanais. O carro-chefe do La Maddalena, o Cala Portese (R$126), é a prova da boa alquimia do chef.

Sucesso entre os frequentadores, o prato faz jus à fama com um linguini negro envolvendo uma deliciosa mistura de camarões, polvo, lula e germamota. Há um raro equilíbrio entre os frutos, tanto em sabor quanto em textura. Nenhum ingrediente fica mais evidente que o outro, ao mesmo tempo que nada soa insosso. Trata-se de uma mistura complexa, que roça a perfeição.

Complexa também é a harmonia que faz do do Agnolotti di Agnello (R$92) outro destaque da casa. A massa é bem recheada com cordeiro, demi glace, fonduta de grana padano e espuma do assado. O grana padano resulta mais delicado do que geralmente se espera.

Para os fãs de molho vermelho, o ideal é mergulhar no Picci (R$83). Feito com ragu de linguiça, o prato é o que mais se aproxima das receitas com molho de tomate, e surpreendentemente resulta mais leve do que se poderia esperar. O mesmo acontece com a reinvenção da casa para o clássico Carbonara (R$95).

Nessa releitura, tudo soa tradicional. A massa é recheada em formato de flor e leva a gema, grana padano e guanciale. O ponto um pouco acima do ao dente permite que o recheio atinja uma harmonia própria que vale à experiência.

Entre as sobremesas, o carro-chefe é inegavelmente o Dona Celina (R$45), uma massa de filó crocante, ganache montée de chocolate branco, morango, caramelo e toffee. Feita em homenagem à avó do chef Marcel Villaça, é uma homenagem à altura e vale cada colherada.

Há ano com as portas abertas em Pinheiros, não é exagero afirmar que o La Maddalena Osteria concorre com seus colegas pelo título de melhor italiano de São Paulo. Seja por se propor a inovações realmente interessantes no gênero, seja por manter seus pés em uma tradição que – aliado ao atendimento ágil e agradável – são seu carro-chefe. Bons ingredientes feitos com criatividade e charme.