Cada vez mais popular entre chefs e restaurantes, o jantar a quatro mãos é um chamariz comercial para casas que buscam movimentar seu público ou conquistar novos habitués. Costuma dar certo, mesmo que a aposta nem sempre se pague. Quando o assunto é harmonia entre escolas gastronômicas, algumas diferenças são irreconciliáveis.
Não foi o caso do Jantar ao Mar realizado no último sábado (28), quando o chef Martin Casilli, à frente do Sky Hall Garden Bar, nos Jardins, recebeu Enzo Ceccin, fundador do Sea, em Santa Catarina. A dupla encontrou ponto de equilíbrio tão raro quanto saboroso entre dois menus servidos em três tempos, pensados para abordar ingredientes do mar e da terra.
Ainda que não permitisse a mescla entre os cardápios, não é de todo equivocado apostar que o desenho entre as opções de mar (Ceccin) e terra (Casilli) tenha sido orquestrado com uma possível harmonização entre pratos. É o caso do Tartare de Wagyu, que, destaque absoluto nas entradas, seria um bom abre-alas antes do Carabineiro y Lulas, pensado como principal do menu mar.
Feito com emulsão de cynar e chips de alcachofra, o tartare resultou mais saboroso do que o olhete fresco na brasa com ajo blanco, servido com um pêssego tostado que destoou do prato, principalmente se em perspectiva das amêndoas e do picles jalapeño, melhor harmonizados.
Entre os principais, tanto o Carabineiro y Lulas quanto o Magret de Pato pontuaram bem. Se o primeiro, com seu arroz bomba espanhol, tinta de lula (bem dosada), camarão carabineiro, lulas (seladas no ponto ideal) e pangrattato de pistache resultou marcante, o segundo apostou na delicadeza, com os sabores distribuídos de forma mais individual – com exceção do mousseline de cenoura orgânica, um tanto pesado.
Os pratos foram servidos em porções ideais, possibilitando que uma sobremesa imponente como o gelato de cogumelo, feito com ganache de gergelim preto tostado, gel de figo, ar de cumaru e pó de cogumelo, soasse como bom complemento de saciedade e não um desafio de fartura. Pensada por Enzo Ceccin, a sobremesa foi a grata surpresa da noite.
Do outro lado, Martin Casilli mirou seguro (e acertou!) com um financier de cupuaçu, servido com calda de cachaça e camomila, castanha-do-Pará e um creme de ricota delicado. Um bom fechamento para um menu que optou por sabores mais singelos. No fim das contas, a dupla atingiu rara sincronia entre duas linguagens – a princípio – díspares em evento que, caso se repita, vale o investimento (R$180 por pessoa).
O Que Beber
Destaque à parte, a ótima carta de drinks do Sky Hall Garden Bar vale um mergulho próprio. Dê uma chance ao Mata Hari (R$51) da casa, com Brandy, Vermouth tinto infundido com Chai, Xarope de Romã e Limão e perfumado por incenso. Outra aventura interessante é a mistura nada óbvia de Tequila Blanca, Morango, Marmelada de Toranja e Tahiti (Antídoto, R$61).
Mas se a ideia é apostar sem chance de errar, um dos drinks mais populares do bar, o Aurora (R$46), faz jus à boa fama. Trata-se de uma mistura saborosa de Amaretto, Maracujá, Xarope Funcho com Endro e Limão tahitI, ideal para encerrar a noite.
SERVIÇO
Sky Hall Garden Bar – Ter. a qui., das 11h30 à 0h; sex., das 11h30 à 1h; sáb., das 11h à 1h; dom., das 10h às 22h – Endereço: r. Haddock Lobo, 1327, Jardim Paulista, região oeste. Tel.: (11) 3061-3865. @skyhallgarden.