Não é de hoje que novos bares e restaurantes em São Paulo têm deixado para trás endereços saturados, como Pinheiros, Vila Madalena e Itaim Bibi, na região oeste, e optado por endereços menos óbvios ou nada clássicos do roteiro gastronômico da cidade. O Café Belô, inaugurado há menos de dois meses na Cerqueira César, fica no meio do caminho entre desbravar o desconhecido e jogar seguro.
Isso porque na rua em que a chef e empresária Andrezza Luísa decidiu abrir as portas há muitas opções de restaurantes, mas poucas para uma refeição que não seja ditado pela correria da vida em São Paulo, o que faz do Belô atrativo para o almoço, jantar ou brunch e café da tarde – o restaurante não fecha entre refeições, recebendo um público de passantes com o mesmo entusiasmo das reservas, que costumam ser disputadas.
É essa característica de acolhimento que dá ao Belô um charme próprio. A chef mergulha em suas raízes mineiras para criar um ambiente aconchegante em seus dois ambientes. Se o térreo a decoração aposta seu charme em detalhes de Minas, como guardanapos bordados artesanalmente e pratos com mensagens gravadas, o segundo andar enfoca a paisagem paulistana optando por teto aberto e iluminação natural.
Vencedora do Taste Brasil 2023, Luísa tenta desmistificar a gastronomia mineira no imaginário coletivo, quando opta por abrir mão dos carros-chefe de restaurantes do gênero, como o feijão tropeiro e a vaca atolada, por exemplo, para apostar em opções menos óbvias, como a recriação do clássico fígado com jiló, servido no Mercado Central de Belo Horizonte.
No Belô, a receita ganha uma releitura a base de patê de fígado de galinha e uma caponata de jiló com mostarda servidos em uma (excelente) telha de pão de queijo. Sai a R$49 e é uma boa pedida de entrada, servindo duas pessoas.
Entretanto, se a pedida for o almoço, o melhor é optar pelo menu executivo desenhado pela chef e que muda a cada 15 dias. Até domingo (18), a casa oferece um cardápio com duas opções de entrada, três de prato principal e duas sobremesas.
Para a entrada, é possível escolher entre uma salada de beterraba defumada, coalhada seca, castanhas e ervas ou o dumpling de bochecha de porcho, dashi de cogumelos e cenoura grelhada, este último com tempero leve e um aroma de pimenta marcado.
Já para o prato principal, a chef trabalha com as opções de frango glaceado com risone de milho fresco e farofa de broa de milho, nhoque de batata com creme de cogumelo e vegetais grelhados, e o destaque do cardápio, o picadinho da casa, que é acompanhado de arroz branco, ovo estalado, couve refogado e uma farofa mineira crocante.
Por fim, a sobremesa, fica entre uma seleção de frutas da estação para aqueles que preferem pular o açúcar, ou o tartelete de iogurte com maracujá, manga e gel de limão cravo para aqueles que não pulam um doce. A sobremesa não tem medo de ser doce, mas é feita com uma base de massa de biscoito que quebra qualquer traço enjoativo.
Todo o menu executivo sai a R$79, com entrada, prato principal e sobremesa, mas é possível optar apenas pelo prato principal, que sai a R$59. A bebida não está inclusa, mas é uma opção mergulhar nas opções da carta preparada pelo bartender e mixologista Marcelo Serrano – o criador da espuma de gengibre do Moscow Mule.
Serrano passa por sua lente as raízes mineiras de Andrezza Luísa, criando uma seleção de drinks que, embora não tenham necessariamente a intenção de harmonizar com os pratos da casa, são bons complementos para a proposta da chef.
Com a propriedade de quem revolucionou o moscow mule no Brasil, o bartender oferece o Belô Mule, uma recriação do clássico russo feito com cachaça mineira, xarope de rapadura, limão e, claro, espuma de gengibre (R$41), que harmoniza bem com a opção vegana da casa, a couve flor grelhada e glaceada feita com homus de cenoura, castanhas tostadas e molho de ervas (R$69).
Mas para quem pretende apenas petiscar, o ideal é harmonizar o Intenso (cachaça de jequitibá, campari, amaretto, vermute, alcaparras, R$45) com a entrada que é o grande destaque da casa, o tartare de angus com broa de milho (R$55), feita com broa de milho com erva doce, steak tartare de angus com castanhas e picles de de pimenta cambuci.
Entretanto, se a opção for apenas mergulhar nos drinks, o Jataí Bee’s Knees by Belô (gin, limão, cravo, camaru, e mel de jataí, R$ 43) é a melhor pedida, além de ser irresistível pedir pelo menos um repeteco.
O Belô Café conta ainda, como o nome faz supor, com uma robusta carta de cafés, que vai desde os clássicos expressos (a partir de R$9), passando pelo coado (R$15) e chegando aos cappuccinos (a partir de R$15) e chegando ao Caramel Latte (R$22), feito com expresso, leite cremoso e – claro – doce de leite mineiro.
Aberto há apenas dois meses, o Belô Café ainda terá longo caminho a percorrer antes de se impor como uma das principais opções do gênero em São Paulo, mas começa de forma promissora, muito por seu ambiente e atendimento acolhedores – desafio a não agarrar em um bom papo com qualquer um dos funcionários, bons contadores de histórias.
Mas muito também por seu (extenso) cardápio, que não tem medo de valorizar suas raízes olhando sempre pra frente, num movimento que resulta muito além das já cansativas descaracterizações de uma das gastronomias mais importantes da cultura popular do Brasil. Uma boa surpresa na temporada de inaugurações.
SERVIÇO
Belô Café – seg. a sáb., das 08h à 0h e dom., das 08h às 17h. – r. Padre João Manuel, 881, Cerqueira César, região central. Tel.: (11) 95321-2347. @belocafesp.